quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Lucas Schuab Vieira - Biografia

Meu nome é Lucas Schuab Vieira.
Eu nasci em 27 de outubro de 1990. Nasci na roça em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, divisa com o Espírito Santo. O nome da cidade era Presidente Soares e mudou-se para Alto Jequitibá. Sou filho de uma família muito pobre. Meus pais passavam muita dificuldade na roça. Quando minha mãe ficou grávida de min ela já tinha duas filhas uma com oito anos e outra com cinco (minhas irmãs). Minha mãe tinha apenas angu com feijão para comer quando estava grávida de min. Só dificuldade. Meu pai trabalhava capinando mato nas lavouras de café. O dinheiro que ganhava mal estava dando para comprar comida. De qualquer forma eu vim ao mundo. Nasci pequenininho, fraquinho, mas vinguei.




            A situação continuou complicada, só dificuldade. Quando eu já tinha um ano e pouco minha mãe ficou grávida de novo. Era o quarto filho que viria (meu irmão mais novo). Ele também nasceu de forma bastante complicada, fraquinho. A situação estava tão tensa na roça que meus pais resolveram vender o pouco que tinha e migrar para a cidade em busca de conseguir pelo menos o que comer direito. Ouviram falar que Campos do Jordão estava precisando de gente para trabalhar e escolheram então tentar a sorte em Campos do Jordão. Para conseguir comprar a passagem meu pai vendeu o pouco que tinha, chegou a vender, inclusive, um cachorro que era da família.
            Meus pais sempre foram evangélicos. Chegando à Campos do Jordão meu pai pediu ajuda em uma Igreja. Para nossa sorte teve um irmão da Igreja que - também tinha vários filhos - que ficou comovido conosco e nos deixou morar na casa dele até conseguirmos um lugar melhor e meu pai conseguir um emprego. A casa era no Bairro Santa Cruz. Esse cidadão, pai de família, por nome João, que nos ajudou foi um anjo em nossas vidas. Hoje ele mora no CDHU e é taxista em Campos, seu nome é João. Ele dividiu até a comida de seus filhos conosco. Não sei te dizer ao certo quanto tempo moramos, nessa casa com essa família. Nessa época meu irmão (Wesley) ainda era um bebezinho com menos de um ano.
            Não sei quanto tempo demorou, mas meu pai conseguiu um emprego (Perto do saibreiro, no Bairro Santa Cruz). Aí a gente soube que havia um antigo convento abandonado que as pessoas que não tinham casa estavam invadindo para morar.       
O antigo prédio das freiras, por nome, Santa Clara, onde hoje é o CDHU da vila Albertina. Meu pai então conseguiu invadir e ocupar um quarto também. Moramos por um bom tempo nesse edifício coletivo. Nessa época minhas irmãs buscavam a merenda que sobrasse na escola para a gente comer. Foi uma época muito difícil também. Meu pai trabalhava a noite, não conseguia dormir direito, ficava muito estressado.







            Com muito esforço meu pai conseguiu comprar um barraco com um quarto só e um banheiro, com chão de terra batida mesma. Mudamo-nos para esse barraco e aos poucos meus pais foram construindo e melhorando essa residência. Essa casa fica localizada na vila Albertina, viela Santa Clara, nº 33. Cresci nesse terreno. Nessa época minha mãe começou a trabalhar direto. Praticamente fomos criados nesse período pela nossa irmã mais velha.
Como eu cresci tendo a minha mãe trabalhando fora eu sempre tive que me virar para tudo.
            Meus pais nunca deram muita importância para estudo. Nunca foram nas reuniões escolares. Eu também não via sentido em estudar. Sempre fui um péssimo aluno. Ao contrário do meu irmão que sempre foi bom aluno. Eu ia para a escola por causa da merenda. Só fui levar a escola a sério no terceiro ano do ensino médio. Hoje me arrependo muito de não ter estudado no passado.
            Eu cresci na rua, aquela Rua do CDHU da vila Albertina. Meu pai trabalhava a noite e precisava de silêncio para dormir. Para não fazermos barulho para acordar ele a gente chegava da escola, almoçava e já ia para a rua eu e o meu irmão. Brinquei muito na rua. Televisão eu não tinha mesmo. Minha primeira TV foi aos 15 anos. Meu pai achava inútil gastar dinheiro comprando TV.
            Aos 11 anos consegui meu primeiro emprego, era um emprego em um parque (Parque da Floresta Encantada, indo para o Pico do Itapeva) onde eu ficava fantasiado de papai Noel e tomando conta de uma casinha com decoração de natal. Trabalhei por alguns meses nesse emprego. Trabalhava aos sábados e ganhava 07 reais por dia.
          Aos 11 eu já tinha uma independência financeira grande. Já conseguia ter o meu dinheiro e comprar as coisas que eu precisava, até material de escola para min já era eu que comprava.
            Depois desse emprego eu comecei a intercalar entre os momentos na rua brincando, e os trabalhos informais que eu fui fazendo. Dentre esses trabalhos encontram-se: capinar quintais na vizinhança, trabalhar de ajudante de pedreiro, ajudante de jardineiro, etc. Nesse período eu e meu irmão trabalhamos muito catando materiais recicláveis na rua e nos lixões para vender. Pegávamos cobre, latinhas de alumínio, garrafas PET e papelões para vender. Sempre íamos às corridas de moto que aconteciam nesse terrenão que tem em frente ao portal da cidade. Tudo sempre intercalando com os estudos que a gente, graças a Deus, nunca abandonou.
            Aos 14 eu consegui um emprego de babá onde eu ficava olhando dois moleques a noite para a mãe deles e o pai poderem estudar. Foi um inferno, os moleques me deram muito trabalho, não me respeitavam. Trabalhei seis meses de babá.
            Depois desse emprego de babá eu comecei a fazer bicos com mais frequência como ajudante de pedreiro. Direto aparecia algum pedreiro disposto a me pagar 20 o dia para ajudá-los aos finais de semana. Nesse período trabalhando em obras apareceram alguns convites para eu começar a vender droga. Alguns homens me zoavam por estar trabalhando em obra enquanto eu poderia estar ganhando bem mais dinheiro vendendo droga. Mas, eu não tinha coragem de me envolver com venda de drogas. Sempre me mantive no caminho certo.
         Continuei com os trabalhos em obras. Aos 15 trabalhei no mês de julho como barmen no restaurante Tarundu, em Campos. Essa foi a minha primeira experiência em restaurantes.
Já passei de tudo que possa imaginar trabalhando em obra, coisas do tipo: dormir ao relento, ter que defecar só no mato, comer muito mal. O pior momento da minha vida até agora foi quando fiquei sozinho trabalhando em um lugar isolado, longe de tudo e o encarregado esqueceu-se de levar almoço para min. Trabalhei o dia todo sem nem ter tomado o café da manhã, foi o pior momento da minha vida, um inferno. Quando isso me aconteceu, já tinha 16 anos.
            Com 16 anos, em maio eu consegui emprego de novo no restaurante Tarundu, só que desta vez como garçom. Trabalhei lá aos finais de semana. Nesse lugar eu fiquei até os 18 anos. Trabalhei muito no tarundu. Entrei sem saber carregar bandeja direito e sai como o garçom que mais vendia. Fiz muito sucesso trabalhando como garçom. Dei-me muito bem nessa área. Aos poucos fui perdendo minha timidez que era grande. Em resumo, eu me tornei um garçom muito bom, dos melhores que eu já vi. Meu esforço e vontade de vencer naquela área renderam muitos frutos. Não ganhava bem, mas ninguém naquele restaurante ganhava bem.  Do meu contato e conversa com os turistas eu fui me dando conta de que eu precisava estudar. Comecei a levar a escola a sério.
            Com esse trabalho no restaurante eu consegui pagar todas as minhas despesas e ainda criar uma poupança e guardar o que sobrava. No todo consegui juntar mais de 12 mil reais, em dois anos, trabalhando aos finais de semana, feriados e férias no restaurante.        
Até então eu nunca tinha pensado em fazer faculdade, sempre achei que era preciso muito dinheiro para poder estudar. Aí aconteceu de pelo fato de estudarmos em escola pública poderíamos fazer o vestibular da UNESP pagando só 25 reais enquanto o vestibular normalmente era 150. Eu pensei, vou fazer essa parada aí. EU nem sabia que a UNESP era uma faculdade pública, fiz a inscrição. Na hora da inscrição tinha que escolher um curso e um campus para poder estudar. Estava em cima do prazo limite e eu não sabia o que colocar, aí pensei: como não vou passar mesmo vou por qualquer coisa. Aí pensei, vou colocar História, escolhi essa disciplina porque eu havia tirado uma nota boa na prova dessa disciplina que eu tinha feito na semana na inscrição. Pensei, História deve ser fácil. Estudei um pouco para o vestibular. Fiz o vestibular de forma descompromissada. Na minha cabeça eu não passaria mesmo. 
            Para minha surpresa saiu o resultado e eu passei. Eu nem acreditei, nem comemorei muito também, afinal eu não sabia nem se iria mesmo fazer o curso, já que foi uma escolha sem pensar. Mas, minha mãe ficou feliz e ficou querendo que eu fosse fazer. Aí como eu tinha 12 mil na conta, resolvi tentar a sorte. Saí do emprego no restaurante Tarundu e fui para Assis, com 18 anos.
            Fiz os quatro anos de faculdade. Tive que estudar muito. No início fiquei muito assustado com o nível de dificuldade da faculdade, quase desisti. Continuei, estudei muito, consegui tirar notas boas isso me animou a ir até o final. Ao final de tudo eu terminei com a quarta melhor média de notas da minha sala. Nas férias da faculdade quando eu voltava para Campos eu trabalhei em Hotéis lá. Sempre como garçom. Fiz um projeto de pesquisa, meio sem pensar muito também. Consegui passar na pós-graduação e estou fazendo o mestrado. Consegui a bolsa FAPESP. Bom é isso. Com certeza eu devo ter esquecido muita coisa, como eu esqueci que quando trabalhava em obras de ajudante de pedreiro eu quase larguei a escola para ficar trabalhando direto. Hoje eu agradeço por no passado não ter feito isso.
Eu me mantive focado em levar a diante os objetivos de terminar os estudos, com isso deixei de lado os relacionamentos.
Este texto encontra-se em construção...
Obrigado pela atenção !!!  

Sites: 
FACEBOOK: https://www.facebook.com/Lucas-Schuab-Vieira-465583996942050/
https://www.facebook.com/lucas.schuab.vieira
Plataforma lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4314911H4